Beyond the audible é um conjunto de 3 esculturas produzidas entre 2022 e 2023, como parte de um projeto de investigação iniciado durante uma residência artística em Clermont-Ferrant França durante a fase final da pandemia.
O estudo consistiu em recolher gravações sonoras de sismos, assim como variações no campo eletromagnético da terra. Estes registos são provenientes de vários centros Científicos espalhados pelo globo, e posteriormente processados por software em pure data. Tratam-se essencialmente de Infra-sons que se situam entre os 3 hz e 23 hz, todos eles produzidos pela atividade geológica e atmosférica da terra.
É fundamental referir que “ infra-sons” são ondas sonoras que não podem ser percepcionados pelo ouvido humano ( uma vez que se encontram abaixo da nossa capacidade auditiva biológica ). No entanto, estes “Sons” são constantemente produzidos pelo planeta e produzem efeitos significativos em todos os seres vivos.
O principal objetivo desta obra é traduzir a energia e vibração acústica gerada por esta gama de sons, numa escultura cinética onde é possível ao espectador percepcionar esse fenómeno. A escultura criada, faz uso dessa vibração inaudível, para criar um movimento constante, uma obra que consegue dar um “formato visível” a algo que é “imperceptível” ao ser humano. Em concreto, esta escultura é um alto relevo, composta por 50 mil madeiras de bambu recicladas, colocadas manualmente ( um a um ), numa plataforma preparada com um altifalante ( coluna desenhada de raiz para reproduzir infra-sons).
(ver vídeo do processo de construção em baixo)
Toda a tecnologia foi desenvolvida de base, de forma a induzir as frequências sonoras ultra baixas na escultura - ou seja - a energia acústica origina um movimento constante, através do uso do som, a madeira vibra e cria um choque em cadeia constante. De certa forma, esta peça é uma espécie de “terramoto controlado” , uma vez que a energia que faz mover a escultura é exatamente a mesma que origina qualquer terramoto ou descarga electromagnética na Terra.
Em suma, esta obra dá uma representação física a um fenómeno do mundo natural, que de outra forma seria completamente imperceptível ao ser humano. Série 1 & 2 - Galeria espaço Mira, Porto, Portugal
Toda a minha obra tem uma relação direta com o campo da Sound Art e Media Art, no entanto “beyond the audible” é um trabalho que transcende esse espaço, por fazer uso de um espectro sonoro inaudível ao ser humano, através de uma tecnologia desenvolvida de raiz que é parte integrante da escultura e da sua linguagem. Trata-se de investigar a forma como diferentes frequências podem ressoar com o corpo humano em níveis profundos. Esta abordagem não se destaca apenas pela expressão sonora, mas também promove uma inclusão profunda da experiência física e visual da vibração acústica. Não obstante, trata-se também de uma peça que se relaciona com a Land Art na tentativa de observar o mundo natural de uma forma diferente, ao desvendar espectros da atividade da Natureza que apesar de constantes, são impossíveis de percepcionar. Uma vontade que esteve sempre presente em toda a minha obra durante a ultima década.
A terceira escultura desta série foi recentemente vencedora de um grande prémio Europeu, atribuído pelo Centro de Patentes Europeu, na celebração dos seus 50 anos de existência. Esta competição contou com a participação de centenas de artistas internacionais, com um prémio monetário no valor de 45 000 euros dedicado á aquisição da obra para a sua integração na coleção de Arte Contemporânea do Centro de Patentes Europeu. Sendo que a minha obra, enquanto vencedora da competição, encontra-se em exposição pública permanente no Hall de entrada do edifício da EPO em Den Hague, Holanda. Série # 3 - European Patent Office, Art Award Ceremony - Den Hague, Holanda.
Este prémio de Arte Contemporânea teve como foco principal a interligação entre Arte e Ciência, assim como a transformação digital, fundamental para esta instituição europeia, com uma história de 50 anos na preservação e incentivo da tecnologia. A coleção de arte do EPO compreende cerca de 1 000 obras de arte contemporânea, incluindo artistas da maioria dos 39 estados membros do EPO. Iniciada em 1980, a coleção está em constante expansão através da aquisição de novas obras de arte, onde se incluem nomes como Ólafur Elíasson, Tomás Saraceno, Rui Chafes, entre outros.
Mais info em https://www.epo.org/en/news-events/news/winning-artists-announced